Por Antonio Rocha*
No cenário atual, onde a gestão pública é quase sempre marcada pelo descrédito de uma população frustrada com tantas promessas não cumpridas pelos governos que ocupam as três esferas do Poder Executivo, falar de eficiência e eficácia nos serviços públicos soa como uma voz dissonante na imensidão que separa o campo dos desejos e o campo das realizações. Ainda assim, existem pessoas que, como eu, acreditam na tese de que a utopia é algo que ainda não foi alcançado, mas, dependendo do nosso agir, é possível de ser realizado.
A inovação da gestão pública com foco na qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos e cidadãs ainda é um desafio a ser alcançado. Entretanto, o sentimento de que isso é possível toma conta das mentes e corações daqueles que acreditam nas possibilidades e lutam para concretizá-las.
Foi alimentado por esse sentimento que, no último dia 24 de junho, tive a honra de participar da 10ª edição do Fórum de Supervisores, organizado pela Central de Serviço Público - OCA Rio Branco, em parceria com os órgãos que atuam na referida central. Na oportunidade, foram debatidas e encaminhadas diversas demandas, cujo propósito era viabilizar o aprimoramento dos serviços oferecidos à sociedade, garantindo o bom funcionamento da central, em seu conjunto.
Neste espaço não será possível fazer um detalhamento mais aprofundado sobre a grandiosidade do Fórum dos Supervisores. Por isso, me aterei apenas em tecer alguns comentários acerca da importância da função de Supervisor dentro do modelo de organização da Central de Serviço Público - OCA Rio Branco.
Na escala hierárquica das organizações, existe uma infinidade de cargos que vão ganhando significado e atribuições de acordo com as peculiaridades organizacionais de cada empresa ou instituição, em diferentes épocas e lugares. Quem nunca ouviu falar dos chefes, diretores, coordenadores e, mais recentemente, gestores e líderes? Todas essas denominações ganham significados diferentes de acordo com as atribuições distintas que desenvolvem nas diferentes organizações.
No entanto, há quem diga que a função de supervisor resiste ao tempo e continua quase que inabalada em virtude de sua importância no interior das organizações. Lamentavelmente, não poderíamos deixar de ressaltar que, em muitos casos, a função de supervisor é subvalorizada e, consequentemente, minimizada em relação a outras funções em decorrência da falta de entendimento sobre seu real papel na organização.
Seguindo esse entendimento, Antonio Jorge Gordilho, no livro o Supervisor – A dimensão supervisional na empresa, esclarece que: “Detalhar as funções e os objetivos deste profissional é primordial para destacar sua importância dentro de uma empresa e valorizá-lo no mercado”. No arcabouço organizativo da OCA Rio Branco, este detalhe é extremamente relevante para que a função de supervisor seja bem aproveitada e receba os reconhecimentos merecidos.
Afim de não deixar dúvidas sobre o papel que o supervisor desempenha numa organização, vamos recorrer mais uma vez aos ensinamentos de Gordilho, para fazer uma breve distinção entre os papeis de supervisor e de gerente. De acordo com o autor, “Um gerente tem como principal função planejar e desenvolver estratégias e processos. Já o supervisor conduz no dia a dia os processos da empresa, por isso a presença deste profissional é vital para que aqueles saiam de acordo com o previsto e tragam bons resultados. Se o supervisor não controlar o processo, o gerente não terá tempo para inová-lo”.
Transplantando essa ideia para a realidade concreta da Central de Serviço Público de Rio Branco, fica claro que o trabalho dos supervisores de órgãos e de praças é extremamente importante no processo de construção e implementação da política de atendimento da OCA- Rio Branco. Trata-se de um conjunto de agentes públicos que convivem diretamente com as demandas da população que procura a central em busca de serviços.
Mas o que tudo isso tem a ver com o modelo de organização da OCA-Rio Branco? Tudo! Vou explicar, mas antes de adentrar mais especificamente às ponderações sobre o modelo de organização da OCA - Rio Branco, preciso fazer uma breve reflexão sobre o conceito de organização, para facilitar a compreensão da linha de raciocínio que será tradada.
A palavra organização é derivada do grego organon, que significa instrumento, utensílio ou órgão. Num sentido mais geral, podemos dizer que organização é o modo pelo qual as pessoas se inter-relacionam entre si, compartilhando ferramentas e assumindo tarefas para alcançarem objetivos comuns.
De acordo com Maximiano(1992), "organização é uma combinação de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos coletivos". Na opinião deste autor, é por meio de uma organização que se torna possível perseguir e alcançar objetivos que seriam inatingíveis por uma única pessoa.
Em pleno século 21, marcado pela era digital, ainda prevalece dois modelos de administração: O primeiro modelo é pautado na centralização das decisões em torno de um chefe "maior" que dita as formas de execução das tarefas, de acordo com as suas interpretações. O segundo modelo - pelo menos teoricamente- procura descentralizar as ações, valorizando o conjunto dos agentes e instrumentos envolvidos no processo de execução. Ocorre que o primeiro modelo, há bastante tempo, tem demonstrado que se tornou arcaico e ineficaz para atender às exigências da administração, principalmente a pública. Entretanto, a herança cultural deixada pelo primeiro modelo impede que muitos gestores deixem de perceber que, antes de implantar o segundo modelo, deve-se ter o cuidado de readequar as instituições para recebê-lo. Caso isto não seja feito, o risco de fracasso é iminente.
Quando falo em readequar, estou falando de remodelação tanto dos aspectos estruturais quanto das formas de conceber a gestão pública por parte dos agentes que farão parte desse novo reordenamento organizacional, sem deixar nenhuma brecha que possibilite o retorno ao modelo anterior.
Neste sentido, pode-se dizer que os idealizadores do modelo de gestão da Central de Serviço Público - OCA- Rio Branco foram felizes ao perceberem essas necessidades já no processo de planejamento e implementação da estrutura organizativa da OCA, quando decidiram implantar as supervisões de praças e dos órgãos. Os supervisores passam a ser bem mais que tarefeiros ordenados. São sujeitos pensantes capazes de fazer, junto com as demais funções da escala hierárquica, construções dialéticas entre teoria e prática na busca de resultados para solucionar os problemas que assolam os cidadãos e cidadãs que buscam os serviços oferecidos pela Central de Serviços Público - OCA- Rio Branco.
Isto posto, não é demasiado dizer que qualquer gerente ou diretor que queira se aventurar em administrar a OCA- Rio Branco, baseado nos moldes do primeiro modelo de organização, mencionado anteriormente, está fadado ao fracasso. Isso, porque, a OCA foi planejada para desenvolver uma gestão participativa real, envolvendo tanto os cidadãos quanto os demais agentes e órgãos envolvidos. O Fórum dos Supervisores é uma demonstração de que o caminho para o sucesso é a gestão participativa, sem deixar espaços para retrocessos. Caso estes detalhes sejam ignorados, a política de atendimento, preconizada em leis e decretos, se tornará vazia se não houver coragem para colocá-la em prática.
* É um cidadão comum, militante das lutas sociais, que acredita no socialismo como instrumento para minimizar as mazelas que assolam a sociedade.
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