Por Antonio Rocha*
Desde há muito
tempo, algumas lendas ou fenômenos impõem pavor ao ser humano, especialmente aqueles
não palpáveis que, na maioria das vezes, vêm carregados de superstições,
crendices, inseguranças e medo do desconhecido. Quando ocorre de coincidir o
dia 13 de determinado mês com a sexta-feira, forma-se uma combinação excessivamente
desagradável à imaginação dos mais supersticiosos. Sem uma explicação única
sobre sua origem, a “sexta-feira 13”,
segue suas dimensões variando entre as diversas culturas que procuram explicá-la
a partir de visões mitológicas, históricas ou religiosas.
Os adeptos da
mitologia defendem a tese de que a origem da “sexta-feira 13” se deu após um grande banquete oferecido pelo deus
Odin durante uma reunião com mais doze divindades. Segundo a lenda, por não ter
sido convidado, Loki, deus do fogo e da discórdia, ficou furioso e promoveu uma
enorme confusão que culminou com a morte de Balder, o favorito dos deuses. Fixou-se a partir dai a superstição de que um
jantar entre 13 pessoas era sinônimo de azar e desgraça.
Outra versão,
que segue essa mesma lógica, advoga que a maldição ocasionada pela “sexta-feira 13” surgiu no período
medieval quando os bárbaros invadiram a Europa e se converteram ao cristianismo,
passando a amaldiçoar Friga, a deusa do amor e da beleza. Para se vingar, Friga
começou a se reunir, nas sextas-feiras, com onze bruxas e o próprio satanás
para amaldiçoar a humanidade.
Já os cristãos
justificam que sexta-feira é um dia
maldito porque simboliza a crucificação de Jesus Cristo. Enquanto o dia 13
representa a quantidade de participantes que se faziam presentes na ultima ceia
antes da crucificação.
São varias as
tentativas de explicação para origem da “sexta-feira
13”, o que não convém explorar neste momento, uma vez que a abordagem aqui
é apenas ilustrativa.
De fato, os estudos apontam e as práticas
cotidianas confirmam que o ser humano, é movido por uma série de sentimentos e
necessidades que o acompanham durante todo o curso da vida. O medo e a
incerteza diante do desconhecido criam, no imaginário popular, verdadeiros assombros
que aterrorizam e ganham significados de acordo com o espaço e o tempo historicamente
situado.
Observando a aflição de um grupo de pessoas, nesta
ultima sexta-feira (13/02), diante da possibilidade real de serem demitidas dos
seus empregos, foi possível constatar que, aos poucos, lendas e mitos perdem espaços
para outros fenômenos que fazem parte da realidade concreta dos trabalhadores e
trabalhadoras. O monstro da imaginação cede
lugar para o monstro da realidade. A apavorante “sexta-feira 13”, de outras épocas, se torna inofensiva frente ao terror
do desemprego.
É verdade que em pleno século XXI, muitos
mitos, lendas e crendices surgidas em tempos longínquos da história, ainda
sobrevivem no imaginário das pessoas. Mas, também é verdade que a sociedade
contemporânea possui outros fenômenos mais aterrorizadores que aqueles do
passado. Isso porque, num Estado capitalista cujo modelo econômico se alimenta
da exploração do homem pelo próprio homem, onde uma pequena parcela de privilegiados
manipula a grande massa de trabalhadores, que conta apenas com a força de seu
trabalho para garantir o próprio sustento e de sua família, o desemprego passa
a ser um dos maiores pesadelos que aterroriza os pais e mães de famílias que
desenvolvem suas atividades na tão propagada quanto ineficiente “gestão moderna”.
Gestão esta, que se utiliza da terceirização
dos serviços públicos, como forma de ampliar a precarização do trabalho aumentando
o controle sobre os trabalhadores e trabalhadoras, que ficam reféns dos apadrinhamentos
políticos que os impedem de acessar ou permanecer nos postos de trabalho.
Assim sendo, fica explícito que, nos tempos atuais,
o desemprego aterroriza bem mais que a “sexta-feira
13”.
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* É servidor público do Estado do
Acre, lutador social e acadêmico do curso de Ciências Sociais da UFAC.
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