Por Antonio Rocha
08/03/2015
Na busca de inspiração para
externar o que realmente pensamos sobre determinado assunto, em muitos momentos
de nossas vidas, a melhor coisa a fazer é parar e refletir sobre a realidade
que nos cerca. A simetria entre nós mesmos e o meio em que habitamos, nos conduz
a encontrar as inspirações necessárias que nos levam a discorrer sobre os mais
variados temas.
Nesta data que se comemora o Dia Internacional
da Mulher, surgiu-me a necessidade de escrever algo sobre esse ser, tão especial
quanto inexplicável, chamado Mulher. Apesar do desejo, o limitado tempo não me
impulsionava a tecer ponderações sobre as muitas histórias que são construídas
para explicar o surgimento desta data, como: a luta das mulheres socialistas
nas ruas do leste europeu ou as lutadoras operárias americanas, tecelãs
vestidas de lilás que, para muitos, refletem o rompimento das amarras que
acometiam a liberdade feminina.
Conveio-me então sentar no banco de
uma praça, observar a multiplicidade de mulheres que por ali passavam, na
tentativa de encontrar, em uma delas, a inspiração que eu precisava para falar
sobre a mulher atual que, queiramos ou não, reconstrói, todos os dias, as
muitas histórias de outras mulheres espalhadas pelas diversas partes do mundo.
Coincidência ou sorte? Não
consigo explicar. Mas em poucos minutos, bem na minha frente, estava a
Francilene, ou Lene como ela mesma gosta de ser chamada, uma feijoense de 32
anos, mãe de dois filhos, que nasceu no seringal Paranã e aprendeu desde cedo a
enfrentar os desafios da vida.
Aos 7 anos de idade, Lene,
juntamente com sua família, mudou-se para
a zona urbana de Feijó em busca de melhores condições de sobrevivência; aos 14
anos, veio morar em Rio Branco, alimentada pela esperança de estudar e
trabalhar para auxiliar no sustento da família . Logo começou a trabalhar como
doméstica e estudar, mas, com a chegada prematura dos filhos, teve que interromper
os estudos para se dedicar à maternidade.
Com olhar cativante, sorriso no
rosto e muita disposição para trabalhar, mais que contribuir com a limpeza e embelezamento
da capital do Acre, onde desenvolve suas atividades como margarida, Lene representa
a força e a coragem das mulheres. Mulheres
que no silêncio da sua própria solidão ou nos ruídos das fábricas, nas noites
frias dos hospitais ou no calor escaldante da lavoura, no estresse dos bancos
de ônibus ou no conforto de suas famílias, na imensidão das florestas ou na
correria das cidades, no deserto ou no mar, no ar ou nas estradas, estão elas
construindo história com ousadia e coragem.
Coragem que, como já disse Heloísa Helena, “vem lá das negras guerreiras que foram açoitadas, marcadas com
ferro em brasa, penduradas em ganchos de ferro que lhes atravessavam as
costelas, mas nada foi capaz de impedi-las de lutar a gloriosa – mesmo que nem
sempre vitoriosa - luta da liberdade!”.
Ousadia, que as faz por os pés
num sapato com dezenove centímetros de salto ou numa bota sete léguas, para
seguir em frente encantando o mundo como verdadeiras mestras de seus destinos.
Com maquiagem ou suor no rosto,
contagiadas de emoções e alegrias ou com o coração dilacerado pelas injustiças
de um mundo machista e desigual, sorrindo ou lagrimando, as mulheres seguem firmes
estampando suas marcas na construção de uma sociedade menos injusta e mais
fraterna.
Por tudo isso, só me resta gritar
bem alto:
PARABÉNS A TODAS VOCÊS
MULHERES!!!!...
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* É servidor público do Estado do Acre, lutador social e acadêmico do curso de Ciências Sociais da UFAC.
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