Por: Antonio Rocha*
Em meio ao lamaçal de corrupção que
atinge tanto aos indivíduos quanto às instituições brasileiras, dificilmente
encontraremos alguém que nunca tenha presenciado atos desonestos e injustos,
especialmente na busca de serviços públicos. Lamentavelmente, alimenta-se uma cultura
da desonestidade que está presente em todos os setores e prejudica um grande
número de pessoas.
É frequente, no exercício da função
pública, nos deparamos com situações que nos deixam perplexos por causa do grau
de esperteza e individualidade das pessoas em busca de favorecimentos pessoais.
Infelizmente, práticas inconvenientes têm se tornado comum, especialmente no
“salve-se quem puder” da busca por atendimento nos órgãos públicos brasileiros.
Pessoas tentando furar filas, agentes públicos inescrupulosos burlando normas e
procedimentos para facilitar atendimento aos seus parentes e/ou amigos, sem se
preocupar com os danos que suas ações causam às demais pessoas, que aguardam,
pacientemente, a vez de serem atendidas. Isto, apenas para dar alguns exemplos.
Mas, como já nos ensinou William
Shakespeare, “nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade”, mesmo numa
sociedade movida pela concorrência, individualidade e busca de realizações
pessoais, a honestidade resiste e continua existindo e superando as barreiras
impostas pelo feitiço da desonestidade que assola grande parte da humanidade.
Com certa frequência, ouço as pessoas
afirmarem que a honestidade é elogiada por muitos e praticada por poucos. Mas,
são exatamente esses poucos praticantes das ações honestas que mantém viva a
chama da esperança de que agir com honestidade é algo prazeroso e sensato.
Hoje, deparei-me com uma situação no
mínimo impactante. Não pelo ato em si, que deveria ser uma constante, mas pela
raridade que ocorre. Uma senhora de nome Jaqueline Silva, solicitou uma senha
para efetivação do pagamento de um boleto num dos correspondentes bancários
localizado nas dependências de uma das instituições públicas com maior fluxo de
atendimento do Estado Acre. Percebendo que a referida senhora estava
acompanhada de uma criança, a atendente emitiu uma senha preferencial e a
entregou dizendo: “aqui, pessoas com crianças de até três anos de idade têm
direito a senha preferencial”, indicando, em seguida, o local onde a senha
seria chamada. Após alguns segundos, a referida senhora se dirigiu até a atendente
e disse-lhe: “a senhora me disse que pessoa com crianças de até três anos de idade
é preferencial. O meu filho tem quatro anos. Por isso, vim devolver a senha
preferencial e pegar uma comum”. Surpresa com a atitude de dona Jaqueline, a
atendente lhe agradeceu e procurou o supervisor para alterar a prioridade da
senha.
Em verdade, há uma infinidade de atos
tortuosos que causam desânimo na grande maioria das pessoas que procuram fazer
da honestidade uma virtude a ser praticada por todos e em todos os lugares. Pessoas
como dona Jaqueline mostram que agir honestamente é possível, desde que haja
lealdade à própria consciência. Neste caso específico, nada poderia impedir que
dona Jaqueline fosse atendida preferencialmente, a não ser a fidelidade à sua
consciência.
Parabéns dona Jaqueline!
*É um cidadão comum,
militante das lutas sociais, que acredita no socialismo como instrumento para
minimizar as mazelas que assolam a sociedade.
Comentários