Por:
Antonio Rocha*
Certa
vez, o renomado jurista baiano, Rui Barbosa, membro e fundador da Academia
Brasileira de Letras, político coerente, representante do Brasil na Conferência
de Haia, foi categórico ao afirmar que “de tanto ver triunfar as nulidades, de
tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Na conjuntura brasileira atual,
contaminada pela inversão de valores, onde a desonestidade é propagada, a todo
instante, pela grande mídia e reproduzida pelas redes sociais, como verdade
absoluta que impera em todos os setores da sociedade, leva-nos a entender que
todos os brasileiros são desonestos. Assim sendo, a honestidade realmente assusta,
uma vez que foge aos padrões estabelecidos pelos sensacionalistas de plantão.
Para agravar tal situação, poucas são as
vezes que lemos, assistimos ou ouvimos notícias sobre as ações honestas, ainda que
elas ocorram todos os dias em nosso país. Na verdade, com raras exceções, a
honestidade é apresentada como algo positivo que deve ser amplamente divulgado
para que se torne uma prática comum a ser exercida por todas as pessoas. Por
isso, resolvi relatar fatos virtuosos que ocorrem constantemente em vários
lugares e, mesmo sem ganhar a atenção merecida, por parte da grande mídia
mercadológica, são dignos de virar notícias para que sirvam de exemplos a serem
seguidos.
Na manhã de quarta-feira (13/01), fui
surpreendido por uma situação que me deixou, até certo ponto, assustado, mas,
ao mesmo tempo, comovido com uma atitude que deveria ser rotineira, caso nosso
país não fosse visto como um reduto de malfeitores onde a corrupção é vista
como algo natural. Por volta das onze horas e vinte minutos, uma senhora se
dirigiu até a mesa de atendimento de um correspondente bancário para efetuar o
pagamento de duas contas: uma de água, no valor de R$ 25,00 e a outra, de energia,
no valor de R$ 61,29. Depois de confirmar o pagamento da conta de energia, o
atendente percebeu que o código de barras da conta de água não estava correto e
orientou a referida senhora a se dirigir até o órgão responsável para corrigir
o erro e depois retornar à mesa de atendimento para concluir o serviço. Por um
momento de displicência, o atendente devolveu todo o dinheiro que a referida
senhora havia lhe entregado, sem reter o valor da fatura de energia que tinha
sido autenticada, portanto, paga.
Passados alguns minutos, o atendente
percebeu o ocorrido, mas já era tarde, uma vez que a senhora já havia
desaparecido do local. Naturalmente, o atendente teria que arcar com o prejuízo
junto ao correspondente bancário, o que lhe custaria o equivalente a quase dois
dias de trabalho.
Momentos depois, dona Isla Maria de
Oliveira Teles, a senhora das contas, reaparece. Não para dar continuidade ao
serviço, mas para devolver o dinheiro que o atendente deveria ter lhe
cobrado.
A atitude de dona Isla, nos engrandece,
pois prova que muitos homens e mulheres, que habitam este país, se realizam
quando agem de forma honesta. O que leva a crer que, se a maioria das pessoas cultivar
a honestidade como um bem prazeroso, chegará um momento em que o ser humano
deixará de ser desonesto para não ter que amargar no inferno de sua própria
consciência.
Como já dizia Sócrates, “se o desonesto
soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por
desonestidade”. Na verdade, percebe-se que muita gente vive em busca da
honestidade, mas treme de medo quando a encontra. Isso porque a honestidade é
percebida no momento em que o ser humano fica frente a frente consigo mesmo. Daí
surge a seguinte dúvida: a honestidade assusta ou apraz?
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*É um cidadão comum, militante
das lutas sociais, que acredita no socialismo como instrumento para minimizar
as mazelas que assolam a sociedade.
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