No mês das mulheres, o presenteado fui eu

Não é novidade para ninguém que o mês de março é conhecido, também, como “mês das mulheres” devido ao fato de que, neste mês, se comemora o Dia Internacional da Mulher. Uma data marcada por festas, ofertas de presentes e muitas reflexões em torno dos acontecimentos históricos que deram origem e simbolizam essa data.
Fugindo totalmente das análises simbólicas e/ou históricas que discutem a origem do Dia Internacional da Mulher, resolvi apenas registrar um fato que me deixou deslumbrado pela simplicidade e grandeza de um espetáculo musical conduzido e protagonizado principalmente pelas mulheres que, de maneira simples e inusitada, cantaram e encantaram a platéia, formada por servidores e cidadãos, que transitavam no interior da Central de Serviços Público de Rio Branco – OCA Rio Branco.
Como parte das comemorações ao Dia Internacional da Mulher, o evento ocorreu na quinta-feira (10/03), por volta das dezesseis horas e trinta minutos, no térreo daquela instituição, ao final de mais um árduo dia de trabalho, às vésperas de um feriado, onde o natural seria que todas as pessoas se apressassem para concluir suas tarefas, o mais rápido possível, para se deslocarem às suas casas em busca de um justo e esperado descanso. Afinal, a reposição das energias se faz necessário para que o trabalho não se torne uma penúria. Mas, a palavra normalidade parece não fazer parte do dicionário das mulheres que ali trabalham. Quando a maioria das pessoas se organizava para ir embora, percebe-se que algo diferente estava acontecendo. Surgia naquele momento o Coral da OCA, um pequeno grupo de pessoas – a maioria mulheres -, que se acomodava num palco improvisado como se estivessem traduzindo, na prática, aquilo que Fernando Pessoa expressava em seu poema, quando dizia: “tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis”.
Impecavelmente produzidas e belas, ali estavam as mulheres que brilham, ao fazer aquilo que gostam, sem querer ser mais do realmente são. Conduzindo os homens e surpreendo os presentes, elas improvisaram um palco no meio do saguão e, em seguida, começaram a cantar sem a preocupação com a quantidade de pessoas que lhes prestigiariam, tão pouco com a vultuosidade dos aplausos que iriam receber, pois o que realmente importava naquele momento era externar a musicalidade invisível que se encontra dentro de cada uma das pessoas que, voluntariamente, participa do Coral da OCA.
A receptividade foi surpreendente! Em poucos minutos, era visível a grande quantidade de servidores e cidadãos que se aglutinavam no salão e nas escadarias em busca do melhor espaço para contemplar, da melhor forma possível, as melodias que fluíam naturalmente daquelas vozes que ecoavam como uma sinfonia, remetendo os ouvintes a um êxtase interior onde era possível perceber as maravilhas que a vida tem a oferecer.
Esse acontecimento me foi marcante, principalmente, pelo fato de ter ocorrido exatamente num local, onde diariamente convivo com um número significativo de mulheres guerreiras, que diuturnamente enfrentam os desafios impostos por uma sociedade predominantemente machista, responsável pela imposição de uma nefasta dupla jornada de trabalho, que sobrecarrega as mulheres numa dinâmica contínua e perversa, que lhes absorve praticamente todo o tempo que deveria ser utilizado para os cuidados consigo mesmas, elevando sua autoestima e seu bem-estar pessoal, o que, lamentavelmente lhes é negado todos os dias.
Ainda assim, é reconhecida a resistência dessas bravas guerreiras que não se curvam diante dos desafios e seguem firme na luta contra as barreiras que lhes são impostas a todo o momento, sem perder a ternura e a elegância de quem sabe cantar e encantar mesmo diante de tantas turbulências.
Dito isto, eu não poderia deixar de registrar que, no mês das mulheres, o presenteado fui eu que pude acompanhar de perto a proeza de um espetáculo musical conduzido pelas mulheres que se superam a todo instante.
Parabéns às mulheres da OCA, do Acre, do Brasil e do mundo!!!


Comentários