Quando a Gestão Pública é conduzida por uma democracia de aparência, a penalidade é a consequência

A história da democracia brasileira é linda! No entanto, sua concretização ainda é uma aspiração. Transitando entre conflitos, conquistas e desafios, o nosso frágil sistema democrático é marcado por lutas e sonhos de um povo que não desiste dos seus ideais. O enfrentamento à ditadura civil-militar, na luta pela “redemocratização”, retrata bem o desejo que o povo brasileiro tem de participar das decisões sobre os rumos que o país deve seguir na defesa do bem-estar comum, das liberdades individuais e da valorização das decisões coletivas na busca de oportunidades iguais para todos.

Hoje, somos levados a acreditar que podemos encher o peito de orgulho e, em voz alta, gritar: vivemos num Estado Democrático de Direito! Mas será que isso é verdade? Bom, do ponto de vista legal, podemos dizer que sim, afinal, a Carta Magna brasileira estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. No entanto, nas praticas diárias, nem sempre as coisas funcionam como deveriam. Isso, porque as mudanças na legislação raramente são acompanhadas das mudanças culturais que permitam quebrar os paradigmas das vaidades que continuam impregnados na mente de muitos brasileiros.

 Desde o processo de “redemocratização” do Brasil, especialmente a partir da constituição de 1988, a Administração Pública, através de seus agentes e instituições, tem procurado construir seus discursos a partir da exaltação de uma pseudodemocracia formal, cujos princípios norteadores são: a “liberdade” e “igualdade” de direitos e deveres. Com isso, procura-se alimentar, no imaginário popular, a ideia de que tais princípios são invioláveis tanto pelas instituições quantos pelos agentes envolvidos. Ocorre que as mudanças reais, no campo prático, requerem bem mais que um amontoado de leis e instituições burocráticas. A ação dos agentes públicos é determinante no processo de alimentação de uma cultura realmente democrática, que se sobreponha às vaidades individuais. O que, lamentavelmente ainda é um sonho a ser perseguido pelos brasileiros.

Na verdade, vivemos numa sociedade hipócrita sustentada pela contradição entre aparência e essência, onde belos discursos se esvaem ou se transformam em retóricas inúteis quando testados na prática. Isso porque, na chamada democracia capitalista, o essencial é constantemente ofuscado pelo superficial e, por sorte ou por azar, as práticas se encarregam de desmascarar as falações, quando estas são postas frente a frente com a realidade concreta.

Um exemplo clássico do que estou falando, infelizmente, ocorre com bastante frequência na própria Administração Pública. Basta que o EGO de um chefe - muitas vezes despreparado para lidar com parceiros críticos - seja contrariado. A simples busca de informações a despeito de uma decisão, por mais despótica que esta possa parecer, pode ser motivo de diversos tipos de penalidades, que variam desde transferência de setor, rebaixamento de função, perca de benefícios financeiros, etc.

Essa pratica nebulosa é bastante prejudicial à Gestão Pública, uma vez que desestimula àqueles agentes públicos que se dispõem a agir corretamente. Apesar disso, ainda acredito que a chama da esperança de uma democracia plena jamais será apagada, desde que cada um de nós faça a sua parte para que o espírito democrático continue vivo, esperando que o tempo possa nos trazer o retorno esperado. Mas enquanto esse momento não chega, é melhor nos confortarmos com as palavras de Micaela Almeida, quando diz que: quando um pássaro está vivo, ele come as formigas, mas quando o pássaro morre, são as formigas que o comem. Tempo e circunstâncias podem mudar a qualquer minuto. Você pode ter poder hoje, mas, lembre-se: O tempo é muito mais poderoso que qualquer um de nós!


Uma luta que segue..!

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