Por Antonio Rocha
De tanto ser questionado sobre a restauração do
pássaro da OCA (prefiro denominá-lo assim), mesmo sabendo que não sou a pessoa
mais indicada para responder às indagações, resolvi externar minha singela opinião
sobre o assunto.
Antes, porém, de me ater mais especificamente ao
tema proposto, preciso esclarecer que na conjuntura atual, impregnada pelo caos
que tomou conta do cenário político brasileiro, as relações sociais, em muitos
casos, acabam se transformando em verdadeiros campos de guerra onde qualquer
acontecimento vira motivo de batalha política. O que, até certo ponto, é
compreensível, afinal a avalanche putrificada de corrupção, que enlameia as instituições
e envergonha a maioria do povo brasileiro, provoca um descredito generalizado tanto
nas instituições quanto entre as pessoas.
Lamentavelmente, essa é uma realidade que afeta o
conjunto da sociedade, elevando os ânimos e impedindo a sensatez e a
racionalidade humana, fato que pode ser facilmente percebido através dos
debates que são travados em torno de qualquer tema, por mais simples que possa
parecer.
Observando as publicações referentes à revitalização do pássaro da OCA,
ficou nítida a polarização das discussões noticiadas nos veículos oficiais de
comunicação, sites, blogs e perfis das redes sociais, cujas opiniões pendenciaram-se
basicamente para dois lados com finalidades distintas: o primeiro encontrou na
restauração do pássaro um motivo para atacar as ações governamentais, numa
tentativa de desqualificar o governo estadual junto à opinião pública. O segundo, por sua vez, se debruçava na busca
de argumentos convincentes para contrapor os ataques do primeiro e tentar
justificar a necessidade do feito.
O agravante de tudo isso
é que as discussões giram, quase sempre, em torno de ataques ou defesas de
teses construídas a partir de percepções egocêntricas que desprezam totalmente a
realidade concreta dos fatos, o que impede
uma análise mais aprofundada daquilo que se pretende explicar. Ou seja, não há
preocupação com a essência do objeto estudado.
Partindo desse ponto de vista, foi possível perceber
a desatenção da mídia em vários momentos, como exemplo, podemos citar: a não preocupação
em saber a opinião dos artistas que fizeram questão de participar daquele
processo, das pessoas comuns e das dezenas de agentes públicos que,
voluntariamente, se dispuseram a colaborar com a revitalização do pássaro, além
da falta de menção àquelas pessoas que, mesmo tendo se desligado do quadro de
servidores da OCA, fizeram questão de participar do evento.
No que tange aos objetivos do artista, Lucas Isawa, acredito que foram alcançados.
Talvez até numa dimensão maior do que este imaginava, haja vista que, se considerarmos
que a principal finalidade de qualquer obra de arte é provocar a critica,
certamente, neste caso, o ego artístico ficou deslumbrado.
Já no que concerne a real
significação daquela obra de arte, para os que acompanham a historicidade do
projeto OCA (Organização em Centros de Atendimento) e, de forma especial, da
Central de Serviço Público de Rio Branco (OCA – Rio Branco), ninguém ousou
discutir ou, ao menos, procurar entender a multiplicidade de significados contidos
em cada detalhe daquela restauração. O pássaro é, a meu ver, a representação
simbólica mais expressiva da própria
OCA enquanto projeto de gestão.
Esses detalhes, que
passam despercebidos pelos holofotes da mídia, seguem ainda mais vivos nas
mentes e corações daqueles que irrigam a vida do desafiador projeto OCA. Tal
privilégio se dar em virtude da compreensão de
que não se trata tão somente de um reparo realizado para cobrir uma estrutura
de bambu, mas de reacender a chama da esperança que alimenta os sonhos daqueles
que dedicam boa parte de suas vidas à construção de uma plataforma de Gestão
Pública que seja capaz de perpassar as vaidades políticas e rixas setoriais para
proporcionar o bem-estar coletivo.
A título de esclarecimento, compete-me informar que
a analogia do título deste texto com a canção de Geraldo Vandré se deu em decorrência
da semelhança existente entre as agitações que estão ocorrendo atualmente no
Brasil e as que foram vivenciadas naqueles anos de chumbo, que, mesmo com a
utilização de táticas diferentes, não há como negar que, assim como em 1968, o
povo brasileiro está enfrentando uma série de turbulências políticas,
econômicas, moral e ética que induzem as pessoas a prejulgamentos perfunctórios
de problemas complexos que exigem análises aprofundadas, sem a mínima
preocupação com os efeitos de suas ações.
Diante de tudo isso, já que não tenho as habilidades
vocais para me expressar contando “pra não dizer que não falei das flores”, vou
me contentar em escrever estas poucas linhas pra não dizer que não falei do
pássaro.
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