Enfim, 2018 chegou. Por se
tratar de um ano eleitoral, evidentemente as análises políticas são
imprescindíveis. Por isso, resolvemos compartilhar com você, amigo leitor, este
excelente artigo de autoria do Cientista
Político, professor e pesquisador do Instituto Federal do Acre, Israel Souza, que
traz uma reflexão interessante sobre a contradição política daqueles que morrem
de amor pelo Acre em época de eleição e depois do processo eleitoral
desaparecem. O texto foi publicado inicialmente no site O Juruá em Tempo, pelo jornalista Leandro Altheman, com o título: Márcio
Bittar, por ele mesmo. Após pequenas correções,
inclusive no título, por parte do autor, nos foi gentilmente enviado para
publicação.
Segue o artigo na
íntegra... Boa leitura!
Márcio Bittar e o parasitismo político no Acre
por Israel Souza*
Faz uns dias, circula em
grupos do Whatsapp um áudio de Márcio Bittar. Seu conteúdo é tão
interessante que ganhou as páginas dos jornais locais.
No geral, a divulgação e
as análises dedicadas ao áudio enfocaram o comentário sobre Gladson Cameli.
Diz: “Gladson não é nem de perto (sic) o candidato que eu gostaria de
ter”.
Consideramos
compreensível, mas um tanto forçada a tentativa de abalar a relação entre ambos
somente com base nesse comentário que, no fundo, é até ‘fofo’.
A nosso ver, as partes
mais eloquentes e contundentes do áudio dizem respeito ao próprio Márcio
Bittar. São as partes em que ele se refere a Temer e às contrarreformas que ele
vem defendendo e efetivando: a trabalhista e a previdenciária.
Embora reconheça Temer
como “todo enrolado”, diz que as contrarreformas que ele vem implementando são
importantes para o Brasil e que está torcendo por elas. Em palavras poucas. O
homem do áudio, futuro candidato ao senado pela oposição, coloca-se como
partidário de Temer e de suas contrarreformas.
E assume tal
posicionamento com uma franqueza e um entusiasmo dignos de nota. Por
isso, o áudio aqui referido pode ser considerado como uma espécie de
apresentação e de declaração de intenções. Por ele, podemos ter uma ideia do
que esperar de um possível futuro senador Márcio Bittar.
No áudio, Bittar afirma
que a “reforma trabalhista foi fundamental, um marco no Brasil”, “acabou com a
legislação fascista”. Em suma, Temer, o “todo enrolado”, teria, segundo ele,
“modernizado as leis trabalhistas”.
Que ninguém se engane com
tais palavras. Bittar não manifesta desprezo pela antiga legislação trabalhista
por ela ser fascista. E, sim, por ela conceder direitos e garantias aos
trabalhadores. O problema seria, então, não seu caráter fascista, mas sua
dimensão popular, social.
Por isso, é que ele chama
“modernização das leis trabalhistas” o ato de desamparar juridicamente os
trabalhadores e desequilibrar, grandemente, as relações trabalhistas em favor
dos patrões.
Com efeito, o que ele
chama “modernização” colocou o trabalhador brasileiro numa condição de
semiescravidão. Os impactos foram enormes. Já começamos a ver. Da noite para o
dia, trabalhadores tiveram seus salários reduzidos a menos da metade. Demissão
em massa ocorrendo em diversas latitudes do país. Trabalhadores que, ao
recorrerem à justiça do trabalho, perderam causas e – pior! – tiveram que arcar
com os custos do processo.
Por tanto, do ponto de
vista dos trabalhadores, essa “modernização” é retrocesso, e não progresso. E,
se Bittar considera tudo isso positivo, é porque assume, como seus, o ponto de
vista e os interesses dos patrões.
Ainda no áudio, Bittar diz
estar torcendo pela reforma da previdência. Neste ponto, fala, com alguma
razão, de uns privilegiados que ganham muito e se aposentam cedo. Entretanto,
diga-se de passagem, que nem Temer nem o Congresso mostram disposição
para enfrentar os verdadeiros privilegiados. No geral, esses são usados discursivamente
para inflamar a população arrancar dela a aquiescência quanto à reforma.
Ora, como é consabido, a
CPI do senado já mostrou que o alegado déficit da previdência é uma farsa e que
a reforma, fundamentalmente, visa a 1) liberar ainda mais o Estado de
compromissos sociais com os de baixo; 2) fazer que uns trabalhadores sejam
obrigados a recorrer aos bancos a fim de alimentá-los com planos de previdência
privada e que 3) outros trabalhadoras morram de trabalhar, sem nenhuma
chance de aproveitar a aposentadoria com a qual contribuíram por toda uma vida
toda.
No intuito de dar
sustentação a seu posicionamento a respeito da reforma da previdência, Bittar
alega ter 54 anos e que não tem aposentadoria ou pensão e que não está
pensando em parar de trabalhar.
Ora, o que sabemos do
“trabalho” de Bittar é que, eleição após eleição, ele chega ao Acre para
disputar cargos eletivos. Depois some. Então temos notícia de que ele
está atuando em outro estado, em cargos de confiança.
Como professor (uma das categorias
criticadas no áudio), lido diariamente com centenas de alunos. Dias há em que
saio de casa às 6 da manhã e só volto às 6 da tarde. Preparo aulas e provas e
trabalhos aos sábados, domingos e feriados. Como pesquisador, não raro, meu
tempo de trabalho se confunde com meu tempo de descanso. Nesse ritmo, o vigor e
a saúde se desgastam com relativa rapidez.
Todavia, sou capaz de
afirmar que, com um “trabalho” como o de Bittar, provavelmente eu chegue aos
100 anos dançando lambada e jogando capoeira.
Para ser ainda mais claro.
O que sabemos do trabalho de Bittar é que ele disputa eleições. E que, no
geral, vem ao estado, de tempos em tempos, basicamente para isso. Disputar
eleições.
Quando por aqui está,
nesse “trabalho”, sempre encontra tempo para escantear correligionários seus,
forjando golpes dentro dos mais diversos partidos por onde passa. Sintomáticas
a esse respeito são suas relações com Bocalom e Major Rocha. Não é por acaso
que Bittar troca de partido como quem troca de camisa.
Isso mostra que, mais que
um programa partidário, ele tem sempre em mente um programa pessoal. A essa
altura, fica claro que sua afinidade com Temer não se restringe ao apoio que
dão às reformas que atacam os trabalhadores e favorecem os patrões. Ambos,
Temer e Bittar, também gostam de golpear seus correligionários.
Guardemos isso. Apoiar um
presidente ilegítimo como Temer diz muito sobre Bittar. Apoiar um candidato ao
senado como Bittar diz muito sobre a oposição.
Termino fazendo um desafio
a Bittar. Se ele está realmente certo de suas posições, que ele, com a mesma
franqueza do áudio, as assuma em sua campanha, em suas propagandas eleitorais.
No mais, fique aqui
registrado todo meu respeito, solidariedade e apoio aos trabalhadores.
Igualmente, fique aqui todo meu desprezo pelos parasitas políticos. Aos
inimigos do povo, guerra sem trégua.
* Israel souza: Cientista
político, professor e pesquisador do Instituto Federal do Acre/Campus Cruzeiro
do Sul, onde coordena os projetos de pesquisa Trabalho, Território e Política
na Amazônia e Miséria Política no Brasil. Autor dos livros Democracia no Acre:
notícias de uma ausência (PUBLIT: 2014) e Desenvolvimentismo na Amazônia: a
farsa fascinante, a tragédia facínora (no prelo).
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