Frequentemente,
ouvimos falar que a vida é uma questão de escolhas e, por mais difícil que possa
parecer determinada situação, sempre haverá esperança e novas possibilidades certamente
aparecerão. A dificuldade, no entanto, está no fazer a conexão entre teoria e prática,
o que nem sempre é uma tarefa fácil, afinal algumas coisas só podem ser
realmente compreendidas quando vivenciadas.
Recentemente,
presenciei uma cena bastante instigante sobre esse assunto, onde teoria e
prática se colocaram lado a lado para testar minha capacidade de interpretação
e análise de uma situação, ao mesmo tempo, complexa e sutil. Ao sair para fazer
um lanche, deparei-me com um grupo de agentes públicos que, de forma quase
espontânea, penduravam adereços luminosos em uma árvore de natal que estava
sendo montada na passagem que dá acesso à cantina de uma Central de Serviço Público. De imediato, tal fato me passou despercebido. Não consegui notar sua verdadeira
grandeza e apenas o vislumbrei de maneira superficial. Mas, a partir do momento que busquei compreender o que de excêntrico havia no referido
acontecimento, percebi que algo bem maior se escondia atrás daquele feito. Só
para dar um exemplo, descobri que a maioria daquelas pessoas (os chamados
“terceirizados”) está na iminência de perder seus empregos. Foi a partir daí
que as coisas começaram a ganhar novos significados. O que me parecia ser um
simples ritual, na verdade, simbolizava uma forma de depositar, naquele pequeno
objeto, os desejos, esperanças e sonhos de dias melhores.
Essa
experiência me fez entender que julgar as coisas apenas com base em sua
aparência imediata nem sempre nos permite compreender o que de fato elas
representam. Isso pôde ser constatado neste caso, onde a cena não pareceu tão surpreendente à primeira vista, afinal estamos nos aproximando do Natal e nada mais natural do
que o espírito de compaixão tomar conta das pessoas. Certo? A resposta é relativa. Porque quando
analisada de forma mais profunda, levando-se em consideração o contexto dos
acontecimentos, percebe-se que a simbologia daquele ato representa bem mais que
uma simples atitude de cooperação motivada pelo espírito natalino. A meu ver, esse acontecimento representa uma espécie de ação revolucionária silenciosa
que, traduzida em palavras, poderia ecoar da seguinte maneira: senhores patrões,
governos e seus sistemas, vocês podem controlar nosso tempo, aumentar nossa
carga de trabalho, definir nossas vestimentas e o horário de nossa alimentação,
usurpar nossos direitos e até mesmo tirar nossos empregos, mas jamais, jamais conseguirão destruir a fonte de esperança e sonhos que habita em cada um de
nós.
Neste
momento de crises, onde os prejuízos recaem quase sempre nas costas das trabalhadoras
e dos trabalhadores que lutam diariamente para garantir seu sustento e de suas
famílias, fica claro que a coisa mais sábia a fazer é agir coletivamente e unir
forças na construção de muitas árvores da esperança para que o Brasil deixe de
servir aos interesses de poucos e torne-se a grande nação que sempre sonhamos.
Diante de tudo isso,
só me resta dizer: avante pessoal! Porque, como já dizia Von Paumgartten, “você
é o que você é, e não somente o que você faz”.
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